08 junho 2009

Lendas dos Orixas:Oxossi ou Odé




Oxóssi mata o pássaro das feiticeiras
Todos os anos, para comemorar a colheita dos inhames, o rei de Ifé oferecia aos súditos uma grande festa. Naquele ano, a cerimônia transcorria normalmente, quando um pássaro de grandes asas pousou no telhado do palácio. O pássaro era monstruoso e aterrador. O povo, assustado, perguntava sobre sua origem.
A ave fora enviada pelas feiticeiras, a Iyá Mi Oxorongá, nossas mães feiticeiras ofendidas por não terem sido convidadas. O pássaro ameaçava o desenrolar das comemorações, o povo corria atemorizado. E o rei chamou os melhores caçadores do reino para abater a ave grande. De Ido, veio Oxotogum com suas vinte flechas. De More, veio Oxotogi com suas quarenta flechas. De Ilarê, veio Oxotadotá com suas cinqüenta flechas. Prometeram ao rei acabar com o perverso bicho, ou perderiam suas próprias vidas. Nada conseguiram, entretanto, as três odes. Gastaram suas flechas e fracassaram. Foram presos por ordem do rei.
Finalmente, de Irem, veio Oxotocanxoxô, o caçador de uma só flecha. Se fracassasse, seria executado junto com os que o antecederam. Temendo a vida do filho, a mãe do caçador foi ao babalaô e ele recomendou à mãe desesperada fazer um ebó que agradasse as feiticeiras. A mãe de Oxotocanxoxô sacrificou então uma galinha. Nesse momento, Oxotocanxoxô tomou o seu ofá, seu arco, apontou atentamente e disparou sua única flecha. E matou a terrível ave perniciosa. O sacrifício havia sido aceito. As Iyá Ni Oxorongá estavam apaziguadas. O caçador recebeu honrarias e metade das riquezas do reino. Os caçadores presos foram libertados e todos festejaram.
Todos cantaram em louvor a Oxotocanxoxô. O caçador ficou muito popular. Cantavam em sua honra, chamando-o de Oxóssi, que na língua do lugar que dizer “O guardião é Popular”. Desde então Oxóssi é o seu nome.

Oxóssi ganha de Orunmilá a cidade de Queto
Um certo dia, Orunmilá precisava de um pássaro raro para fazer um feitiço de Oxum. Ogum e Oxóssi saíram em busca da ave pela mata adentro, nada encontrando por dias seguidos.
Uma manhã, porém, restando-lhes apenas um dia para o feitiço, Oxóssi deparou com a ave e percebeu que só lhe restava uma única flecha. Mirou com precisão e a atingiu.
Quando voltou para a aldeia, Orunmilá estava encantado e agradecido com o feito do filho, sua determinação e coragem. Ofereceu-lhe a cidade de Keto para governar até sua morte, fazendo dele o orixá da caça e das flechas.

Erinlé é acusado de roubar cabras e ovelhas
Em Ijebu viveu um caçador chamado Erinlé, ele era generoso e imbatível na caça, por isso era admirado pela maioria da população, mas havia alguns moradores que invejavam Erinlé e que conspiravam para arruinar o caçador, famoso pela caça de elefantes e de outros animais.
Decidiram roubar cabras e ovelhas do rei e culpar Erinlé, o rei intimou quem soubesse algo sobre o roubo a dizê-lo, os conspiradores foram até o rei fazer a acusação, disseram que Erinlé roubava cabras e ovelhas, escondia as peles em casa e dizia que as carnes eram de animais selvagens.
O rei quis ouvir a defesa de Erinlé, houve testemunhos a favor dele, diante do impasse, o rei ponderou que Erinlé parecia ser de fato um grande caçador, mas teria que provar sua inocência. Erinlé disse: Minha caça falará por mim. Minha caça será minha testemunha”.
Erinlé foi até sua casa e trouxe coisas para o rei, Erinlé trouxe as peles dos animais selvagens que havia caçado, presas de elefantes e de javalis, peles de gamos, veados e antílopes.
Então o rei reconheceu a inocência de Erinlé e ordenou que ninguém mais tocasse no assunto, Erinlé foi para casa, inocentado porém triste. Erinlé nunca se conformou com a acusação que sofrera, Erinlé pensava e não entendia a razão de tentarem desgraça-lo, n ão quis mais caçar nem comer com os seus.
Em momentos de desespero fustigava o próprio corpo com a sua chibata de cavaleiro, seu bilala. Imaginava que seria acusado novamente caso acontecesse outro roubo de animais.
Erinlé perdera completamente a vontade de caçar, então entrou na água de um rio próximo e partiu de Ijebu, onde nunca mais foi visto, E se tornou o orixá do rio.
Erinlé agora é o rio, o rio Erinlé é Erinlé, o orixá caçador que já não caça.
(Do livro "Mural dos Orixás" de Caribé e texto de Jorge Amado - Raízes Artes Gráficas)
Oxossi, rei de Ketu, meu pai e pai de mestre Caribé, de Genaro de Carvalho e de Camafeu de Oxossi, é São Jorge matando o dragão. Deus da caça, das úmidas florestas, com o ofá(arco e flexa), abate os javalis, as feras, é o invencível caçador. Rei Oxossi, senhor do Ketu, rodeado de animais, usa capanga e chapéu de couro. Carne de porco, eis a sua comida preferida. Gosta também de bode e galo mas não tolera feijão branco. Come ainda ojojó, milho cozido com pedaços de côco. Dança com ofá e erukerê feito com rabo de boi. Sua palavra de saudação é Okê. Existem várias qualidades de Oxossi: Otin, Inlé e Ibualama. Orixá poderoso, encantado do maior respeito, suas festas são de grande beleza e opulência. Uma delas, a das Quartinhas de Oxossi, no candomblé do Gantois, onde reina a veneranda Mãe Menininha, é inesquecível espetáculo.
Ibualama ou Inlé é uma qualidade de Oxossi, marido de Oxum. Como os demais Oxossis é caçador, rei de Ketu, usa ofá(arco e flexa) e chapéu de couro. Come tudo que é caça e seu dia é quinta-feira.
Um Oxossi azul, Otin! Usa capang
a e lança. Vive no mato a caçar. Come tôda espécie de caça mas gosta muito de búfalo. 


                                              Arquetipo dos filho de oxossi
O filho de Oxóssi apresenta arquétipicamente as características atribuídas do Orixá. Impondo sempre sua marca pelo mundo selvagem, nele intervindo para sobreviver, mas sem alterá-lo. São pessoas independentes e de extrema capacidade de ruptura, o afastar-se de casa e da aldeia para embrenhar-se na mata a fim de caçar. Seus filhos possuem um grave conceito de ruptura e independência A solidão como prazer vem do seu interesse por atividades que exijam concentração e silêncio. São pessoas que tem o gosto pelo ficar calado e desenvolver a observação,. Geralmente Oxóssi é associado às pessoas joviais, rápidas e espertas, tanto mental como fisicamente. Tem grande capacidade de concentração e de atenção, aliada à firme determinação de alcançar seus objetivos e paciência para aguardar o momento certo para agir. Os filhos de Oxóssi, portanto, não gostam de fazer julgamentos sobre os outros, respeitando como sagrado o espaço individual de cada um. Buscam trabalhos e funções que possam ser desempenhadas de maneira independente, sem a ajuda nem a participação de muita gente, não gostando do trabalho em equipe. Ao mesmo tempo, é marcado por um forte sentido de dever e responsabilidade, pois é sobre ele que cai o peso de sustento da tribo. São pessoas capazes de assumir grandes responsabilidades e de organizar e lidar, sabendo liderar facilmente grandes grupos. Os filhos de Oxóssi não compartilham com os de Ogum o gosto pela camaradagem, pela conversa que não termina mais, pelas reuniões ruidosas e tipicamente alegres, fator que pode ser radicalmente modificado pelo seu segundo orixá (o ajuntó). Não são pessoas tipicamente extrovertidas, gostando de viver sozinhas, preferindo receber grupos limitados de amigos, como o caçador que de vez em quando, compartilha com outro caçador o seu almoço, troca histórias e informações, mas depois segue caçando sozinho. Mesmo sendo um bom observador do comportamento humano – podendo antecipar atitudes e descobrir o que há de lúdico e repetitivo no jeito de cada um se comportar – o filho de Oxóssi tem pouca paciência com as sutilezas da diplomacia. Cansa-se facilmente das pessoas, de suas necessidades complexas, que ele poderá identificar como caprichos. Não aceita que nem todos tenham o aspecto simplista e austero da vida. Fisicamente, são pessoas relativamente magras, menos musculosas que os guerreiros filhos de Ogum ou encorpados como os filhos de Xangô. Tendem a ser pessoas nervosas, mais possuidores daquele tipo de tensão represada, mantida com certa dificuldade, até que explode uma única vez, atingindo o adversário no ponto mais fraco, que havia sido pacientemente visualizado no processo de preparação do bote. Possuem mãos delgadas, finas e extremamente expressivas. Seus olhos são vivos e atentos, seus passos extremamente leves, como do caçador que não quer provocar ruído. Sua movimentação tem certa graça e leveza, numa harmonias advinda da economia dos movimentos. Podem porém, ser mais vaidosos e requintados em circunstâncias específicas, como festas ou acontecimentos sociais em geral, como se o caçador pudesse ser rude ao trabalhar na mata, mas exigisse ser reconhecido como alguém de destaque nos raros momentos que passava  na sociedade.

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